“Escrever é lavrar, é semear, é tecer” - Álvaro Gomes

Sempre que me deparo com o desafio da folha em branco várias ideias surgem no pensamento. Saltam e crescem em diferentes direcções como se fossem crianças no recreio da escola cada uma com o seu brinquedo favortio.Deixo que elas se divirtam um pouco, serpentiando nos labirintos da minha mente, outras vezes tecendo delicados fios de emoções. Quando paracem aquietar-se, surge o momento de arrumar e organizar cada uma delas de forma a poder aceder-lhes rapidamente e com facilidade. Mas é nesse momento que cada uma dessas ideias se esvanece e nada mais faz sentido. Como quando toca a campanhia do recreio e num ápice todas as crianças se evaporam em corrida para as salas. O recreio fica de novo vazio, sem vestígio do que se sucedera, tal como a folha que continua em branco.

Não obstante, algo aconteceu e a medo saem as primeiras palavras. Aquele milésimo de segundo em que turbilhões mentais invadiram a consciência e no mesmo instante se dissiparam deixou as primeiras sementes do que será em breve um livro. Foi importante aquela agitação para penetrar na profundidade do pensamento, ou talvez mais fundo ainda, no subconsciente, revolvendo ideias, conceitos, sentimentos, vivências que assumem um novo rumo, um novo sentido.

Ainda assim, as palavras são frágeis, quais cristais delicados que precisam ser trabalhados subtilmente, e então formar uma preciosa obra de arte. Cada pequeno detalhe merece uma atenção especial, pois sem ele o colar não ficará perfeito. Uma palavra, uma única palavra no meio de um texto pode parecer insignificante, mas se ela estiver fora do lugar, fora de contexto, o que construímos não foi uma peça de joalharia e sim de quinquilharia.

HJC
2-Mai-2010